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Común Tierra visita a Amazônia no Equador!

Postado há 11 anos
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Com Max, nosso guia e suas lindas sobrinhas! Com Max, nosso guia e suas lindas sobrinhas!
Tomando chicha! Tomando chicha!
Ryan ganhando una pintura... Ryan ganhando una pintura...
Carmela é uma incrível artesã! Carmela é uma incrível artesã!
Rica Chicha! Rica Chicha!
Clemente, Xamãn e músico Clemente, Xamãn e músico
Max, mostrando um estílo típico de trampa para pescar Max, mostrando um estílo típico de trampa para pescar
Oh, Cachoeira! Oh, Cachoeira!
Com a família Kichwa! Com a família Kichwa!

A Amazônia tem uma mística, uma fama por seus rios abundantes e florestas, com animais selvagens e muitos povos indígenas. "Maior floresta tropical do mundo", dizem uns... "Os pulmões da Terra", dizem outros... Mas também tem outra reputação triste, a imagem de desmatamento, de mineradoras e extratores de petróleo, de imensas queimadas para criação de gado e monocultura de cana e soja.

Com tudo isso e muito mais em nossas mentes e corações, no final de agosto descemos a Serra do Equador rumo a Amazônia, para ter um primeiro contato com esta grande Mãe Floresta, sentir seu pulso e respirar seu ar úmido...

Buscando uma forma de fazer uma visita com turismo comunitário, encontramos Rio Branco, uma comunidade Napumanda Kichwa (Quíchuas Filhos do do Rio Napo), que através da sua cooperativa Ricancie oferecem serviços de turismo para compartilhar sua cultura e gerar alguma renda para a sua aldeia. Deixamos a Minhoca em um sítio de amigos e entramos na Floresta por essa comunidade.

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A aldeia de Rio Branco fica a aproximadamente 3 horas de Tena no Equador. Viajando vimos a evidência do rápido desenvolvimento atual na região: muitas construções de edifícios, e muitos caminhões transportando areia, combustíveis e madeira por suas vias urbanas. Tena está muito movida para uma cidade pequena... Nas ruas os rostos são de pessoas indígenas misturados com imigrantes brancos.

Entramos na aldeia por uma estrada que foi construída há menos de um ano. Eu, Ryan, visitei esta comunidade há seis anos com um grupo da minha Universidade e ainda lembro da viagem de barco e das de três horas de caminhada para chegar ao povoado. Agora é muito mais rápido, se cruza o Rio e em meia hora se chega ao local.

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Pascual ensinando a Leti algumas palavras em Kichwa

Ao chegar no povoado encontramos a Aldeia vazia, era hora de trabalho e muitos estavam no campo. Na “praça” (que é a quadra de futebol) estava a sua fábrica de sabões artesanais e também a escola, fechada para férias. E lá encontramos o professor Pascual. Nosso novo e sorridente amigo nos ajudou a encontrar uma família para ficarmos, o que acabou sendo uma experiência marcante, e uma linda janela para conhecer a cotidianidade da cultura Kichwa dessa região.

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Ficamos na casa da família de Clemente Aguinda e Carmela Licuy, onde vivem com seus filhos Edison e Max, nossos guias na visita, e outros filhos e netos, mais ou menos 12 pessoas. A casa, como as da aldeia, é de madeira, construída no segundo andar, sendo o debaixo um espaço "para ter sombra e ventilação pro calor", nos conta Clemente. Sim, faz muito calor!

Ainda não tinham instalado eletricidade na aldeia (coisa que vai chegar logo), portanto, as noites eram iluminadas pelas velas pelo fogo, e a luz das estrelas. A trilha sonora eram palavras em Kichwa com pano de fundo dos animais da selva. Muito bonito e misterioso!

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Mutirão noturno para descascar feijões para dia seguinte

Com a família, acordávamos às 5 da manhã para começar o dia com um chá de Guayusa (Waysa em Kichwa), erva amazônica tradicional com propriedades estimulantes, que é parte de um antigo ritual dos Kichwa Amazônicos: Tradicionalmente bebiam o chá ao levantar (de madrugada) com a família e cada contava seus sonhos da noite anterior, para os avós deram leituras e conselhos pro dia baseados no sonho. Imagine começar cada dia assim! Hoje em dia muitos não seguem esse ritual completo, mas seguem madrugando pra tomar Guayusa juntos, entre 3 e 5 da manhã, dependendo da família. Eles nos contam que tomar chá de Guayusa protege as pessoas na floresta, principalmente antes dos dias de caça.

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Durante nossa visita, fizemos algumas caminhadas por rios e até uma cachoeira para banhar, conhecida como Cachoeira da Anaconda porque tem uma gruta que (reza a lenda), vivem três anacondas! Na caminhada aprendemos sobre plantas medicinais da floresta tropical, práticas de pesca, e métodos antigos de caça de animais.

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Durante as caminhadas também vimos um microcosmo da cena que passa de destruição na Amazônia... árvores cortadas de todos os tipos e tamanhos, algumas realmente gigantes, desmoronadas para serem vendidas como madeira.

Quase todo o tempo da nossa estadia escutávamos moto-serras trabalhando à distância... é uma tendência que se repete em todos os lados da Amazônia onde chega uma estrada pois fica fácil para os caminhões levarem a madeira. Os moradores da Aldeia estão divididos com a chegada da estrada, alguns dizem-nos que, nesta região o "desenvolvimento" (estradas, energia elétrica, etc.) está chegando rápido demais: “Não queríamos a estrada, mas foi uma decisão de maioria entre as comunidades da região”. Outros discordam "O que vai acontecer se somos as únicas pessoas na região que não estamos conectados à estrada ou eletricidade?". É uma situação bastante complexa e fica difícil opinar sem entender bem o contexto. O que sim vemos em muitos casos é como “desenvolvimento” nesses lugares muitas vezes cria situações de dependência entre os locais e o sistema capitalista, além de gerar uma exploração sem limites que beneficia grandes companhias exploradoras e danifica as terras, dificultando a sobrevivência dos povos originários no local. Coisa comum em muitas regiões da Amazônia.

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Ryan aprendendo a hacer una trapa de pesca

A Aldeia de Rio Blanco produz sabões artesanais e comercializa alguns cultivos. E espera, através de sua cooperativa que o turismo comunitário possa ser mais uma alternativa para a sua permanência na região, sem ter que buscar trabalho nas cidades e incentivando a preservação de suas práticas culturais. Eles oferecem várias oficinas para visitantes sobre plantas medicinais, assim como: artesanato tradicional, construção natural, culinária, cultivos agrícolas, histórias e lendas locais, idioma Kichwa.

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Ryan e Max, nosso guia, pescando no Rio!

Atualmente, a comunidade é conhecida pela sua tradição na medicina natural que vem sido mantida tanto que oferecem workshops em outras comunidades indígenas locais. Eles contam que um exemplo de sua eficiência na saúde é o controle de natalidade: muitas mulheres da aldeia controlam natalidade usando ervas medicinais sendo “Sandre de Dragón” uma das principais. Os Yachaks (pajés) são os que conhecem e preparam as misturas e fazem os rezos para a medicina.

Mandioca e peixe são a base fundamental de sua dieta. A partir da mandioca, preparam uma tradicional bebida fermentada, a "Chicha" (Aswa em Kichwa), que é uma base de sustento: cada membro da família toma uma tijela de chicha no final de cada refeição. E dizem que "isso tira qualquer fome!" Sua Chicha de Mandioca é muito saborosa, e com este vídeo você pode aprender a fazer! Allimikuna! ("Bom Apetite!" em Kichwa)

Um dia na aldeia, vimos umas jibóias, cobras conhecidas pela capacidade de comer animais grandes (como vacas) depois de quebrar seus ossos. As jibóias estavam em caixas, e eram resgatados por um dos nativos da aldeia que sempre que as encontra feridas, lhes cuida e devolve para a floresta.

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Foi muito impressionante ver a cobra apertando seu braço e como ele podia controlar-la segurando seu pescoço, não permitindo ataque. Ele nos disse que o veneno da sua picada não é mortal para humanos, mas é muito dolorido e que as cobras, depois de um tempo, ganham sua confiança e não atacam mais.

No final de uma tarde, chegou uma tempestade, veio rápido e forte, escurecendo o céu. Entramos todos em casa e nós dois ficamos na rede admirando os raios luminosos quando de repente... um relâmpago caiu há 50 metros à nossa frente! Foi muito forte! Saltamos da rede, sentindo a descarga no ar e pulsando em nossos corpos ... todos impressionados! Na família nos disseram que nunca tinham visto um raio tão perto... Portanto, esta noite, sentamos ao fogo para beber chicha, e Clemente nos contou lendas Kichwas sobre o nascimento do raio. Aqui você pode ouvir a lenda toda, contada em Kichwa com tradução em espanhol do seu filho, nosso amigo Max.

E chegou a hora de partir, a Minhoca nos esperava para seguir ao sul. Foram alguns dias, mas muito bonitos e especiais. Estar neste grande floresta, sentir a sua conexão, toda a sua beleza e também compartilhar com a cultura Kichwa antigos habitantes dessas terras, foi uma experiência única.

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Com a família Aguinda Licuy

 

Deixamos aqui um vídeo de uma canção nativa, cantada pelo amigo Clemente, que além de músico, é um dos Yachaks (pajés) de Rio Blanco.


Ashka Pagrachu
(gratidão), queridos irmãos Kichwa!

E até a próxima aventura, família!
Ryan e Leti

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