Uma Exploração de Comunidades Sustentáveis na América Latina.
Atenção: leia a primeira parte desse post aqui
Para eleger em parto em casa, você tem que se preparar física, emocionalmente e espiritualmente. Estudamos lendo livros, assistindo filmes e palestras além de participar de rodas de casais grávidos. Falamos sobre os nossos desejos, expectativas, medos e preocupações para construir confiança em nós mesmos. Nós praticamos yoga e caminhamos na praia. E meditamos e rezamos para um parto tranquilo e um bebê saudável.
Uma das decisões mais importantes a serem tomadas em um parto em casa é quem o acompanhará durante o parto. Optamos por trabalhar com duas parteiras, Mayra Calvette e Naoli Vinaver, que são ambas parte de um grupo chamado Ama Nascer que apóia partos domicilares planejados, além de oferecer cursos e palestras. Ambas desempenharam um papel fundamental no nosso parto – foram fantásticas! Super dedicadas, amorosas, competentes. Estamos muito felizes com a nossa escolha.
No lado esquerdo, nós, Mayra e sua filha – nas 39 semanas de gravidez. À direita, com Naoli durante uma visita pós-parto, 25 dias após o nascimento de Anahí.
Com nossas parteiras, planejamos como gostaríamos que fosse o parto (sabendo que tudo poderia mudar no momento), e também planejamos um "plano B" no caso de haver complicações, que no nosso caso seria ir para o hospital público, a meia hora de carro. Um parto domiciliar planejado deve ter sempre um plano B, embora a taxa de transferência para o hospital necessária seja bastante baixa. Para mais informações sobre a segurança do parto domiciliar, clique aqui.
Começando o trabalho de parto
Leticia: “Pra mim o parto foi um rito de passagem que abriu as portas pra experiência de ser mãe. Já citamos nossas razões práticas pra ter o parto em casa no outro post, e uma delas era pra poder receber esse bebê num ambiente que honrasse o sagrado dessa ocasião. Um espaço onde eu tivesse liberdade pra fazer o que sentisse que era melhor, onde eu estivesse nutrida de amor, confortável, empoderada, e ao mesmo tempo acompanhada de pessoas capacitadas e que eu confiasse pra pode apoiar esse processo.
Por isso, além de definir as parteiras uma das coisas importantes foi preparar a casa: Tínhamos que manter a casa quente, limpa, mais ou menos escura e bem íntima, por isso, colocamos cobertores sobre as janelas e velas por todos os lados. Criamos um altar especial para o parto, instalamos uma piscina inflável e deixamos almofadas e tapetes disponíveis. Eu estava em casa, e me senti em casa! ☺
O meu trabalho de parto foi longo, durou muitas horas, em parte porque a minha bolsa de águas não rompeu rapidamente, e decidimos não intervir, esperando ela romper naturalmente.
Uma coisa que eu agradeço foi poder ter um trabalho de parto tão longo. Pois me permitiu passar por muitas experiências: Eu chorei, ri, gritei, dancei, eu caminhei, rezei, recebi massagem... eu cantei sozinha no chuveiro, e depois acompanhada por tambores com Ryan e as parteiras, todos rezando por essa passagem. E pude até mesmo dormir preciosos minutos de sono entre as contrações.
E no final do dia mais intenso da minha vida, em uma noite de lua cheia, finalmente conhecemos nosso bebê, e descobrimos no momento que era uma menina! Era a vida humana em sua forma mais pura. Nosso amor manifestado em matéria. Nossa filha. Anahí.
Não há palavras para descrever o trabalho de parto e nascimento. É uma experiência muito poderosa onde nos defrontamos com toda nossa luz e nossa escuridão. Dar à luz é intenso, maravilhoso, surpreendente e doloroso. E nessa dor, há uma porta para outro estado de consciência, para uma abertura entre os mundos. A vida do bebê que chega, a morte de quem eu fui antes. O renascer de mim, agora mãe. Logo de parir eu senti um estado de profundo e sereno amor pela minha filha, pela vida, e por todo o universo, como nunca havia sentido antes. "
Nosso primeiro retrato de família, 1,5 dias após o nascimento!
O nascimento de Anahí foi uma cerimônia incrível, mostrando o poder de uma nova vida e da passagem entre os mundos. Sentimos que fomos parte de algo milagroso, algo que nunca iríamos esquecer, e a prova está nos olhos de nossa filha, vendo o mundo atrás de sua pele rosada.
Não demorou muito para perceber que a nossa viagem estava apenas começando. Tínhamos agora em nossos braços uma criança, totalmente dependente de nosso cuidado que requeria atenção constante. Anahí precisava ser alimentada, aquecida, embalada para dormir, banhada, vestida, e acima de tudo, precisava do nosso amor. Era como estar num primeiro dia de aula, em que a nossa mestra era este pequeno ser humano que não sabia falar, caminhar ou alimentar-se, no entanto, tinha tudo por nos ensinar.
E assim, uma nova viagem de nossas vidas começa...
Com amor -
Leticia, Ryan, e Anahí