Uma Exploração de Comunidades Sustentáveis na América Latina.
O momento do parto é um dos mais importantes da vida de uma mulher: Obra máxima da criação na vida de um ser humano, o fato de trazer um filho ao mundo é, por sua natureza, uma experiência transcendental.
Desde os tempos antigos, quando não havia hospitais e a medicina ocidental não ocupava a mesma dimensão na sociedade, os nascimentos eram feitos por parteiras que se encarregavam de apoiar essa experiência da mãe e do pai. Com o passar dos anos, dos avanços e tecnologias da medicina ocidental, os partos em hospitais se tornaram um hábito, sendo hoje considerados como a forma mais segura de ter um bebê pela maioria da sociedade.
Mas o que significa segurança no parto?
Numa sociedade capitalista a tendência de ver tudo como um produto ou serviço faz com que demandas complexas (como o parto) tenham que estar dentro de uma lógica simplista: o serviço deve ser contratado, prestado por um profissional que sabe tudo e resolvido. Pagar e ter o serviço. Aqui está a segurança.
Começamos por aqui: parto não é um serviço que se compra, ou pelo menos não deveria ser, pois é uma experiência espiritual de geração de vida, um momento sagrado onde o bebê é apresentado ao mundo e onde a mãe se conecta ao seu máximo poder de criação. Ao tratar o parto como um serviço demandando por profissionais que se encarregaram de tudo, se corre o risco de outorgar-lhes demasiado poder de decisão, desconectando a mãe de sua força divina, sagrada e criadora num dos momentos mais importantes da sua vida e do filho.
No México o cenário de partos hospitalares é bem complexo. A taxa oficial de cesáreas no país bate os patamares de mais 40% sendo que existem hospitais que o fazem em 90% dos casos. Quando se sabe que a cesárea representa 6 vezes mais mortes que o parto vaginal, esse dado é assustador. Ao mesmo tempo, nos hospitais públicos, o parto não pode ser acompanhado por nenhum membro da família, o que deixa a mãe sozinha com uma equipe profissional sem nenhum apoio emocional das pessoas que ama nesse momento tão delicado. Prática que traz riscos para a mãe. Escutando esse depoimento de uma mãe mexicana, fica fácil entender: “No meu parto eu tinha muita dor e gemia alto, o médico veio e me disse que eu não deveria gemer alto, pois ia assustar as outras pessoas do hospital. Então eu tinha dor, estava sozinha e não podia fazer nenhum ruído! Eu tinha muito medo.”
Onde está a segurança do parto nesses momentos?
O lugar mais seguro para ter o parto é o lugar onde a mãe se sinta confortável emocionalmente, segura de seu poder de criação e conectada com sua energia vital.
Dentro dessa visão, surgiu o Projeto Luna Maya, uma Casa de Partos Humanizados situada em San Cristobal de Las Casas, Chiapas, lugar que visitamos em nossa estadia por lá.
Ao longo dos seus 6 anos de existência Luna Maya vem trabalhando em humanizar as práticas do parto e trazer ferramentas para apoiar as mães de forma que estejam estar conectadas com seu poder de geração tendo uma experiência saudável de parto.
O Centro, fundado pela parteira Cristina Alonso traz a opção para as mulheres de terem um parto seguro emocionalmente e um papel ativo nesse processo. Por isso elas passam por ensinamentos, práticas, conversas e acompanhamentos onde conhecem mais de si mesma e do seu bebê, estando mais conscientes e preparadas para esse momento.
Cristina nos explica que a proposta do Centro é criar um “parto em liberdade” onde a mulher está orientada e segura o suficiente para decidir o tipo e situação de parto que lhe traz mais conforto e confiança. O objetivo é que a mulher se sinta forte, conectada com sua linhagem e energia vital para parir. A parteira usa seu conhecimento somente para facilitar o processo.
O centro hoje realiza uma média de 65 partos por ano, dando alta dedicação para cada mãe, e o estilo de parto varia de acordo com suas vontades: alguns são na água, outros na cama, alguns em casa, outros no centro... Totalmente Livre e Seguro! O perfil de mulheres que visitam o centro também é variado, vão desde indígenas locais até estrangeiras como européias e norte-americanas. Como a intenção é ser acessível, as opções de investimento variam de acordo com o poder econômico de cada mãe.
Além de Casa de Partos, Luna Maya é um Centro de Formação de Parteiras, e Clínica de Atenção Primária para a mulher. A Clínica oferece tratamentos como: medicina natural, yoga para grávidas e crianças, massagens, acupuntura, Flores de Bach e outras terapias holísticas.
Nas fotos abaixo podemos conhecer um pouco da estrutura do Centro:
Banheira de Parto
Sala de Yoga
Mais do que provedor de diferentes terapias, a maior contribuição do Centro Luna Maya é oferecer a mulher uma opção de parto mais holística e humanizada, com segurança nos níveis físicos e emocionais. Esse tipo de projeto mostra como podemos abordar nossa saúde de uma perspectiva mais sustentável, sendo responsáveis pelas nossas ações, agindo com consciência, segurança e liberdade.
Esperamos que nós, mulheres, no dia em que celebramos nossos direitos, possamos também conectar com nosso poder feminino e sagrado de criação.
Com parabéns para todas as mulheres do mundo,
Letícia