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Permacultura na Guatemala, Lago Atitlán e Turismo

Postado há 13 anos

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Lago Atitlán, como se vê na foto acima, é simplesmente um dos mais lindos lagos no mundo. Situado numa ancestral cratera de vulcão, o lago é rodeado por diversos vulcões jovens adentro de um cenário que cria uma magia no ar e no coração. O lago, nas alturas da Guatemala é berço de históricos e atuais grupos de Mayas que tem vivido de forma sustentável na área por milhares de anos. No entanto a colonização espanhola junto com a apropriação da terra devastou sua cultura sustentável e trouxe muitos desastres para o ecossistema local.

A história do Lago Atitlán é uma típica história do abuso cego e da degradação dos recursos naturais trazidos pelas “civilizações” colonizadoras. Com o crescimento da indústria na Guatemala e o crescimento do país como destino turístico aos olhos do mundo, a terra fértil ao redor do lago foi vendida em parcelas para investidores e famílias ricas, deixando para a população local, poucos restos do seu território original.

Nos anos recentes, o governo tem subsidiado fortemente os fertilizantes químicos, mais de 80% segundo diversas fontes, levando a um uso extremo de químicos na agricultura local. Grande parte desse percentual terminou no lago, para onde correm as águas das chuvas das plantações, trazendo constantemente algas que nunca foram vistas anteriormente. Ao mesmo tempo, o lixo e esgoto de muitos dos povoados que foram crescendo através de um turismo insustentável trouxeram doenças e sujeira para uma água que sempre foi cristalina e potável. Atualmente os turistas podem comprar água filtrada, mas muitos dos Mayas locais, com escassos recursos, têm que tomar dessa água poluída.

Nesse contexto o Instituto Meso Americano de Permacultura (IMAP) foi fundado em 2000 numa aliança entre locais e estrangeiros na tentativa de trazer soluções sustentáveis para a região. IMAP é um eco centro e instituto de ação e educação ambiental a aforas de San Lucas Tolimán, na margem sul do lago. A expressão de permacultura do local é palpada na ecologia e cultura Maya local. Suas atividades são planificadas de acordo com a contagem da Cosmovisão e Calendário Maya e um círculo de palavras e encontros no centro de sua sede mantêm os 20 selos do Calendário Maya.

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A maior parte do trabalho do centro se direciona as comunidades locais. IMAP apóia as populações locais sem terra dando a eles espaço para que cultivem sua própria comida nas áreas próximas ao lago, que tem maior fertilidade. O acesso é doado com apenas duas condições: o cultivo deve ser orgânico e algumas das sementes que eles produzem são doadas ao banco de sementes orgânicas do IMAP. Desta forma eles garantem o uso e aprendizado de métodos de cultivo orgânico pelos locais, além de manter um banco de sementes que é distribuído para as comunidades locais multiplicarem seus cultivos.

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O projeto também apóia a reconstrução de áreas quando afetadas por situações extremas como terremotos ou erupções, sendo uma ação atual a construção de banheiros secos e círculos de bananas num campo de refugiados criado para refugiados da Tormenta Ágata em 2010. Estes projetos têm ganhando a confiança das comunidades locais que agora estão sendo apoiadas pelo centro também no desenvolvimento de hortas nas escolas dos seus distritos.

O lugar é hiper cultivado pela equipe do IMAP nas áreas menos férteis, utilizando sistemas agroflorestais mostrando uma extensa diversidade de plantas comestíveis e medicinais. Técnicas de permacultura mais comuns, como círculos de bananas e trincheiras de infiltração são integradas nas florestas com plantas locais e estrangeiras.

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A cultura local diz que milho foi um grande presente dos deuses para os ancestrais Mayas sendo reconhecido como uma planta sagrada e alimento básico de sua subsistência. Os ancestrais Mayas associam as 4 cores do milho com as 4 raças humanas e as 4 direções que podem ser vistas no diagrama abaixo.

 

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Assim como o milho é um presente dos Deuses, os Mayas acreditam que o amaranto é a comida dos Deuses. Amaranto foi um outro cultivo alimentício dos povos pré-hispânicos comido como grão, folhas e flor. Os colonizadores espanhóis, vendo a importância do amaranto para a cultura Maya, queimaram todas as plantações que encontravam. Sendo um cultivo muito produtivo e nutritivo, o amaranto pode ter um papel importante no aumento da segurança alimentária das comunidades pobres, espacialmente no México e América Central onde os indígenas originais cultivavam amaranto amarelo e vermelho como se pode ver nas fotos abaixo:

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Os programas do IMAP apóiam auto- suficiência e vida sustentável nas comunidades locais. Em frente a um continuo desenvolvimento de turismo que gera a maior parte dos ingressos locais mas muitas vezes é desenvolvido de forma insustentável e mal distribuída, exemplos de alternativas para comunidades que não vivem do turismo são extremamente necessárias. O local tem programas de voluntariado e informações que podem ser mais detalhadas nos contatos diretos.

Dentro das dinâmicas de turismo existentes atualmente onde o privilegio de desfrutar a beleza memorável e tranqüila do lugar não significa manter as contínuas práticas de colonização existente se mantêm algumas questões éticas, que não temos que responder mas vale refletir. Qual o nosso papel quando somos turistas? Como podemos encontrar equilíbrio entre viajar sem contribuir para a degradação ambiental e social dos locais? Ou, como ajudar a reverter alguns dos problemas dos lugares que visitamos?

Para todos que tem interesse em saber mais, conhecer ou visitar o Lago Atitlán ficam aqui algumas informações, para que saibam que existem projetos lutando pela sobrevivência das populações e ecossistemas desse local, como o IMAP. E sim é possível participar, envolver-se e apoiar esse tipo de iniciativa de diversas formas, colaborando para um desenvolvimento sustentável da região e ajudando a manter essas riquezas naturais.

Paz, Ryan e Leti
 

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