Uma Exploração de Comunidades Sustentáveis na América Latina.
Você já imaginou: uma universidade que não pede pré-requisito escolar? Um centro de educação aberto para entrar sem necessitar burocracias ou competições? E que não precisa pagar pra estudar? Um lugar que oferece chances de aprendizado iguais para indígenas, estrangeiros e mestiços locais? Ou um lugar onde se aprende fazendo exatamente o que se quer? E com aprendizado livre?
Dentro de um sistema de educação moldado por regras e títulos, por normas e conceitos, parece impossível imaginar, mas não dentro das livres estruturas na Universidade da Terra, de Oaxaca.
Universidade da Terra é um projeto que tivemos a chance de conhecer em nossa estadia por Oaxaca, um espaço de aprendizado livre que tem como propósito contribuir para a busca de conhecimento através da prática. Por isso são aplicadas formas democráticas de aprendizado dentro de uma estrutura horizontal, onde os alunos decidem o que aprender e são apoiados por pessoas do projeto. Sem nenhuma pirâmide! Os formatos de aprendizagem são totalmente abertos, diversos e livres, desenvolvendo-se e transformando-se todo o tempo, assim como esses conceitos.
Soa no mínimo diferente, não?
Pois exatamente isso que a Unitierra é, um lugar diferente que se define como espaço de aprendizagem ao invés de Instituição de Ensino. Um lugar que apóia o conhecimento através do exercício da autonomia, consciência e trabalho prático. Como diz Gustavo Esteva, um dos fundadores do projeto que nos recebeu em uma das nossas visitas ao local: “tentamos estabelecer um ambiente para aprender com diversão e liberdade, junto de amigos”.
Em termos reais, Unitierra é um projeto muito conectado com sua realidade local: o estado de Oaxaca no México é formado por uma grande população indígena que vive em pequenos povoados ou bairros populares, com necessidades específicas e muito diferentes das realizadas por tradicionais e padronizadas profissões diplomadas. O projeto oferece possibilidades de aprendizado mais engajadas e envolvidas com as necessidades locais. Por isso o formato é diferente pra cada novo estudante.
Mas como esse formato funciona? “É bastante simples”, como diz Gustavo: “Nossa intenção é aprender fazendo dentro da sociedade. Então através de redes de contato dos organizadores se cria uma ponte e conexão dos aprendizes com pessoas das áreas onde querem atuar. E eles aprendem trabalhando e praticando com essas pessoas”.
Não tem sala de aula, medição de presença, notas, avaliações, não tem uma regra de tempo, mas tem atuação na área ao qual um se interessa, tem espaço para explorar e “inventar” as atividades que cada um quer fazer. O importante é ter espaço e liberdade para praticar, ter idéias, usar a criatividade e conhecer o assunto. Por isso o nível de aprendizado, os locais de pesquisa, o tempo de envolvimento serão definidos pelo estudante que está orientado por alguém da área que ele quer aprender. Os orientadores podem ser: um profissional, uma ONG, uma família, um centro de trabalho, etc.
Na pequena sede de Unitierra existe uma grande biblioteca, um centro de comunicação e área de demonstrativa de eco técnicas e cultivos internos, todas construídas e mantidas pelos alunos. No local também são realizados: encontros, diálogos interculturais, debates, seminários de discussão, eventos... todo tipo de atividades que abrem espaço para os envolvidos refletirem sobre questões relevantes da sociedade. Desenhando, juntos, alternativas para o mundo atual e aplicando essas alternativas nas suas atividades. É uma universidade da vida!
Veja abaixo algumas fotos:
Gustavo aprensentando um projeto de uma aluna que aprendeu tecnicas de cultivo e agora ensina a outras pessoas.
Gustavo, Ryan e Domingo (nossos amigos do Projeto Biotu estiveram presentes na nossa primeira visita!)
Técnica de Irrigação por goteiras
Participamos de um dos seminarios onde se discutiam formatos e exercicios de povos autonomos em Oaxaca.
Quando perguntamos a Gustavo sobre números, são difíceis de dar: “os resultados são muitos e difíceis de quantificar porque o nosso impacto vai muito além dos alunos e chega em muitas comunidades”. Como quantificar o significado um filho de campesino que aprende técnicas de irrigação numa região árida e ensina os agricultores locais a fazerem o mesmo? Como quantificar o impacto de um trabalhador que faz reflorestação e planta árvores que mudam um ecossistema inteiro? Ou um profissional que faz comunicação social livre e apóia rádios comunitárias? São histórias como essas que Unitierra coleciona e que vão, pouco a pouco, apoiando o aprendizado, a ação social consciente e o desenvolvimento sustentável. Seja em Oaxaca, seja em outros países...
A metodologia de “não método” além de diferente serve de inspiração para muitos projetos que estão sendo criados em outros lugares. Muitas outras Unitierra estão surgindo, em outras partes do México, na Califórnia, no Canadá... Sem nenhum modelo, sem nenhum dono, são projetos autônomos e adaptados a outras realidades por pessoas inspiradas nessa idéia. Como diz Gustavo: “Não queremos nem podemos ser grandes. As outras iniciativas são totalmente autônomas e independentes. Porque aqui gente não promove, a gente ‘com-move’”.
Que saber mais sobre isso? Visita o site deles! Ou assista o vídeo abaixo, produzido por um aluno.
E os exemplos de consciência, conhecimento e liberdade sigam caminhando juntos rumo a um mundo mais sustentável!
Letícia e Ryan